sábado, 7 de junho de 2008

"Scuppie" e o consumo consciente

Aproveitando que encerramos a convencionada "Semana do Meio Ambiente", um tópico para reflexão:


A nova geração verde e bem sucedida


Na era do aquecimento global, o Yuppie (gíria em inglês para um jovem da cidade rico e bem sucedido) é um ser deslocado. A moda agora é juntar o amor ao dinheiro com o respeito ao meio ambiente e aderir ao movimento Scuppie.

Scuppie é a sigla para Socially Conscious Upwardly-mobile Person (Pessoa socialmente consciente e antenada nas novidades tecnológicas), em outras palavras, quase um ecologista geek e cheio da grana.

O termo foi criado pelo americano Chuck Failla, presidente de uma empresa de planejamento financeiro em Manhattan, na cidade de Nova York. Na blogosfera, o rótulo é usado para definir a evolução do processo que começou no movimento Hippie e passou pelo Yuppie.

No site do "movimento", três frases definem o que muitos já chamam de "a nova geração verde":

1- Uma pessoa que deseja tudo que há de melhor na vida e pode prestar algum serviço social e pensar de forma consciente.

2- Alguém que busca a paz, felicidade e dinheiro (não necessariamente nesta ordem)

3- Uma pessoa "verde" que entende que o amor pelo dinheiro não pode ser mais importante que a natureza e vice-versa.

O site ainda traz alguns gráficos que explicam como um Scuppie pode associar o conforto e o luxo a um modo de vida mais sustentável, como por exemplo, usar um cartão de crédito que converte uma porcentagem da compra em doação para a protação da Amazônia.

Ou ainda como manter seu cabelo perfeitamente arrumado sem usar produtos com aerosol ou testado em animais.

Apesar da boa intenção, algumas colocações do modo de pensar da nova tribo "executiva-verde" soam um pouco fúteis, mas como a filosofia do Scuppie diz: o importante é fazer a sua parte de alguma forma.

(http://br.noticias.yahoo.com/s/080605/48/gjo7y7.html)


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Consumo das classes A e B no Brasil equivale à produção de dois planetas Terra


Por Ana Luiza Zenker, da Agência Brasil

Brasília - Se o mundo todo consumisse água, energia, alimentos e serviços da mesma forma que as classes A e B brasileiras, seriam necessários três planetas Terra produzindo ininterruptamente para fornecer os produtos e serviços em quantidade suficiente para abastecer esse consumo. É o que mostra uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (5) pela organização não-governamental ambientalista WWF Brasil.

A pesquisa, realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mostra que 45% da população segue esse padrão de consumo. Todo o restante, ou seja, 55% dos brasileiros, consomem de uma forma que demandaria dois planetas Terra para ser abastecida.

Em comparação, os hábitos de consumo da população dos Estados Unidos, se fossem adotados em todo o mundo, demandariam a produção de bens e serviços de mais de cinco planetas Terra.

Esses dados “acendem a luz amarela, para que a gente possa ter um consumo sustentado”, diz a secretária-geral do WWF Brasil, Denise Hamú. “[Isso] significa que temos que repensar nossos hábitos”, destaca Irineu Tamaio, coordenador do Programa de Educação Ambiental do WWF Brasil. Ele ressalta que 67% da população não sabe qual o destino dado ao lixo produzido em casa – as pessoas apenas colocam o lixo em sacos que vão ser recolhidos pelos serviços de limpeza urbana.

Esse número é ainda maior nas Regiões Norte e Centro-Oeste (80%) e Nordeste (84%). Na Região Sul é que as pessoas estão mais acostumadas a separar o lixo reciclável – cerca de 42% da população faz essa separação ainda em casa, enquanto 44% somente colocam o lixo em sacos.

“Chama a atenção que, às vezes, o Sudeste e o Sul tenham política públicas ou campanhas de esclarecimento ou divulgação a respeito do destino do lixo, e que talvez nas Regiões Norte e Centro-Oeste, ou talvez no Nordeste, não existam políticas de aperfeiçoamento, preocupação ou destinação do lixo”, acrescenta Tamaio.

Segundo ele, um dado positivo merece ser destacado: o percentual de pessoas que sempre desligam lâmpadas e aparelhos eletrônicos quando não os estão usando: 80% fazem isso. “É um índice que a gente considera alto.”

“O que nós queremos é despertar na sociedade brasileira uma forma de pensar e agir para propor algumas mudanças, ou seja, o consumo gera um impacto”, diz Tamaio. Ele aponta uma tendência de aumento do consumo no Brasil, mas ressalta que isso precisa ser planejado, pois a pressão sobre os recursos naturais é muito grande quando se confirma essa tendência.

“O fato é que a gente só tem um planeta, e hoje consumimos mais do que se tem disponibilidade”, completa Samuel Barrêto, coordenador do Programa Água para a Vida, do WWF Brasil. Essa é uma orientação, ele conclui, “que indica sinais preocupantes de como vivemos no país”.

A pesquisa ouviu 2002 pessoas em 142 municípios de todo o Brasil, entre os dias 13 e 18 de maio deste ano. De acordo com o WWF Brasil, foi a primeira vez que se fez um trabalho desse tipo no país.


(http://envolverde.ig.com.br)


Comentário:

Essas duas notícias demonstram bem o paradoxo do que poderíamos chamar de algo como o "green way of life" (surgiu esse termo na minha cabeça, mas nem sei se ele já existe por aí). É algo como uma suposta nova ideologia progressista que arrebata desde socialites "antenadas" do Morumbi e da Barra da Tijuca até os mais gigantescos conglomerados bancários. Viver um estilo de vida capitalista, consumista por excelência, e ao mesmo tempo supostamente sustentável (sob o prisma econômico).

Até que ponto o real engajamento e consciência política resiste a uma violenta hipocrisia social? É uma questão complicada. Se por um lado é constrangedor ver gente como a Sua Majestade Príncipe Charles falando sobre a importância da proteção das florestas tropicais, há um outro lado de conscientização, mesmo que frágil. O tal do "marketing verde", por mais hipócrita que possa parecer, possui um componente indireto de real educação ambiental. Quem cresce sabendo um mínimo de conceituação sobre o que é um modo de vida sustentável já está um passo a frente do completo ignorante.

Na minha opinião, esse é o grande fator transformador: educação ambiental. E não é preciso ser muito inteirado sobre o que se estuda na área pra saber que esse aspecto ainda é imensamente menosprezado, e deixado de lado por todos os "atores sociais" de peso da nossa civilização "classe A/B". Sem falar que esse fator não é suficiente para reverter a situação. É o mínimo acalentador. Mesmo que o componente educacional seja tratado com seriedade, ainda vai demorar uns 40, 50 anos para que tenhamos resultados minimamente impactantes e que seja possível criar um novo paradigma de existência sócio-econômica e política no planeta.

Em suma, o quadro não é nem de longe um pouco animador.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Querida Marina *

Escrito por Frei Betto
16-Mai-2008

Caíste de pé! Traze no sangue a efervescente biodiversidade da floresta amazônica. Teu coração desenha-se no formato do Acre e em teus ouvidos ressoa o grito de alerta de Chico Mendes. Corre em tuas veias o curso caudoloso dos rios ora ameaçados por aqueles que ignoram o teu valor e o significado de sustentabilidade.

Na Esplanada dos Ministérios, como ministra do Meio Ambiente, tu eras a Amazônia cabocla, indígena, mulher. Muitas vezes, ao ouvir tua voz clamar no deserto, me perguntei até quando agüentarias. Não te merece um governo que se cerca de latifundiários e cúmplices do massacre de ianomâmis. Não te merecem aqueles que miram impassíveis os densos rolos de fumaça volatilizando a nossa floresta para abrir espaço ao gado, à soja, à cana, ao corte irresponsável de madeiras nobres.

Por que foste excluída do Plano Amazônia Sustentável? A quem beneficiará este plano, aos ribeirinhos, aos povos indígenas, aos caiçaras, aos seringueiros ou às mineradoras, hidrelétricas, madeireiras e empresas do agronegócio? Quantas derrotas amargaste no governo? Lutaste ingloriamente para impedir a importação de pneus usados e transformar o nosso país em lixeira das nações metropolitanas; para evitar a aprovação dos transgênicos; para que se cumprisse a promessa histórica de reforma agrária.

Não te muniram de recursos necessários à execução do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, aprovado pelo governo em 2004. Entre 1990 e 2006, a área de cultivo de soja na Amazônia se expandiu ao ritmo médio de 18% ao ano. O rebanho se multiplicou 11% ao ano. Os satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectaram, entre agosto e dezembro de 2007, a derrubada de 3.235 km2 de floresta.

É importante salientar que os satélites não contabilizam queimadas, apenas o corte raso de árvores. Portanto, nem dá para pôr a culpa na prolongada estiagem do segundo semestre de 2007. Como os satélites só captam cerca de 40% da área devastada, o próprio governo estima que 7.000 km2 tenham sido desmatados. Mato Grosso é responsável por 53,7% do estrago; o Pará, por 17,8%; e Rondônia, por 16%. Do total de emissões de carbono do Brasil, 70% resultam de queimadas na Amazônia.

Quem será punido? Tudo indica que ninguém. A bancada ruralista no Congresso conta com cerca de 200 parlamentares, um terço dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado. E, em ano de eleições municipais, não há nenhum indício de que os governos federal e estaduais pretendam infligir qualquer punição aos donos das motosserras com poder de abater árvores e eleger ($) candidatos.

Tu eras, Marina, um estorvo àqueles que comemoram, jubilosos, a tua demissão – os agressores ao meio ambiente, os mesmos que repudiam a proposta de se proibir no Brasil o fabrico de placas de amianto e consideram que "índio atrapalha o progresso". Defendeste com ousadia nossas florestas, biomas e ecossistemas, incomodando a quem não raciocina senão em cifrões e lucros, de costas aos direitos das futuras gerações.

Teus passos, Marina, foram sempre guiados pela ponderação e fé. Em teu coração jamais encontrou abrigo a sede de poder, o apego a cargos, a bajulação aos poderosos, e tua bolsa não conhece o dinheiro escuso da corrupção.

Retorna à tua cadeira no Senado. Lembra-te ali de teu colega Cícero, de quem estás separada por séculos, porém unida pela coerência ética, a justa indignação e o amor ao bem comum. Cícero se esforçou para que Catilina admitisse seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia.

Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?".

Faz ressoar ali tudo que calaste como ministra. Não temas, Marina. As gerações futuras haverão
de te agradecer e reconhecer o teu inestimável mérito.


* ministra do Meio Ambiente

Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de "A Obra do Artista – uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.


fonte: Correio da Cidadania

Não defendemos a natureza

Ontem o preço do petróleo bateu seu recorde. E veremos isso todos os dias daqui para frente, nem é preciso explanar aqui sobre o conceito básico de “oferta/procura”, nem sobre os fatores que levaram a escassez do ouro negro e ainda sobre sua imensa necessidade à propulsão econômica mundial.
Lá no Ártico a preocupação é nenhuma. Os ursos polares nem ao menos viverão para presenciar o tamanho da tragédia. Você parou pra pensar que a probabilidade de a Torre Eiffel continuar em Paris nos próximos quarentas anos é maior do que as perspectiva de vida dos Ursos Polares? Não está na hora de você rever o seu passeio turístico?
A aposta agora é a seguinte: quem virá primeiro a derrota da Amazônia ou do Petróleo? Nem vamos aqui colocar os Ursos Polares na aposta, estes, já estão no limbo.

Essa parcialidade verde, “a natureza como sagrado, a natureza como bem estar, a natureza como provedora” é altamente nociva e danosa.

Não somos julgadores da natureza, nem seus amigos, seus comparsas. Somos parte dela. Os animais não abraçam árvores, os rios não dançam em volta de fogueiras para a Grande Criação. Eles celebram a vida preservando-a. É o instinto de sobrevivência básico de qualquer ser: menos do sábio Homo-sapiens, que perdeu este conceito há muito já.

Ingênua, eu?
Não estou ignorando as tecnologias, os avanços, os meios de trabalho e produção. Sabemos todos que viver como nômades-preservadores-do-meio é algo insustentável e irreal. Então porque não propor um novo caminho?

Caímos então na armadilha: não estamos em uma auto-estrada que só leva a um trajeto; mote do discurso enfadonho dos ambientalistas; proteja a natureza diga “não” ao modo de vida que você leva, ande de bicicleta (cara, eles conhecem São Paulo?), faça yoga (!), filie-se a uma ONG.

Então, eis o novo caminho!
Vamos lá! Não sejam vocês, queridos “defensores da natureza”, ingênuos. Natura Ecos, Whole Foods, papel reciclado da Suzano, carros menos poluentes, e milhares de exemplos estão aí para atender a vocês com o slogan: empresa que preserva o meio ambiente. Lindo, palmas!! Você não come produtos trangênicos segundo a listinha do Greenpeace, você recicla o seu lixo em casa e faz palestras nas escolas locais.

E aí está a questão: a própria economia já captou (e porque não, cooptou) essa parcela consciente da população mundial. Até o açúcar mascavo cresceu na indústria. Porque eles querem defender a natureza? Não, o fato é o lucro em defender a natureza e por isso, e só por isso, que o mundo não vai explodir em Tsunamis, chuvas ácidas, gases venenosos, furacões, etc, nos próximos quarenta anos, juntos com os ursos polares.

Você, que come comida orgânica, faz isso porque que defender a natureza? Então você está tão errado quanto o presidente da Monsanto. Ou você acha que ele compra comida no mercadão? Não, dear, e na área de orgânicos do Empório. Ingenuidade sua achar que pode defender a natureza. Defenda-se das suas próprias perspectivas, é o que eu aconselho.

A postura deve ser ativa, inclusiva, interna.
Não adianta você ver a natureza como sagrado, se não é assim que você se enxerga afinal, o que os separam?
Vamos deixar a balela ecochata para as grandes ONG´s que podem contribuir em uma escala maior, invadindo navios que transportam madeira ilegal, queimando laboratórios de pesquisa.

Quando você colocar a próxima “mini carrot” na sua boca, enquanto tecla no seu mac book air, saiba: a natureza sabe responder sozinhas as agressões que estamos enfrentando, e seu sistema imunológico fará algo simples: expurgará esta doença que a afeta; nós.

Você já está neste organismo vivo que é o nosso planeta, basta saber se a sua escolha é ser o câncer ou um glóbulo branco.

domingo, 13 de abril de 2008

Discurso - Orlando VIllas Bôas

Segue um interessante trecho de discurso proferido pelo grande humanista, sertanista e indigenista brasileiro, Orlando Villas Bôas no ano de 1974, quando do recebimento do título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Mato Grosso.

Trabalha de forma muito clara o dramático quadro sócio-ambiental que o Brasil vem atravessando.




“Nos tempos atuais, os que detêm o poder econômico e político, agindo como homens práticos, julgam-se habilitados a conduzir o mundo para um brilhante futuro. Na concepção de todos eles – ressalvadas algumas exceções – o desenvolvimento material, o progresso conseguido por meio de uma tecnologia cada vez mais refinada e complexa, é suficiente para solucionar todos os problemas da humanidade. E tudo aquilo que se põe a essa ordem de idéias é imediatamente incluído no plano do romantismo e da utopia. Entretanto, enganando-se a si próprio e demonstrando não serem tão pragmáticos como imaginam, procuram não aceitar o fato de que estão impelindo o mundo para aquele destino sombrio, antevisto pelo grande Solzhenitsyn no documento que dirigiu aos líderes de seu país, à humanidade, e a cada um de nós em particular. Nesse documento, o notável humanista incluiu o Brasil entre os raros países que detêm extensas regiões ainda não contaminadas, não comprometidas para a sobrevivência do homem.

Não pretendemos, evidentemente, que seja estancado o nosso desenvolvimento, ou que se regresse a posições já ultrapassadas. Em resumo, não preconizamos o retorno ao coche, ao lampião a gás, ao navio à vela. Continuemos o progresso, mas um progresso verdadeiro, suavizado, que não implique a desumanização do trabalho e do relacionamento entre os povos, as classes e as criaturas entre si.

Por que não animar a fúria presente, essa corrida desenfreada para a conquista de novas riquezas e de poderes ilimitados? Se nessa altura já verificamos que simples ideologias políticas não encerram a solução para os grandes, profundos e os antigos problemas do homem, usemos então o discernimento, os poderosos recursos da ciência e da consciência moral, a fim de atingirmos o ideal a que todos os homens livres aspiram: um padrão de vida em consonância com a dignidade humana. Logicamente, não seria apenas através de uma reformulação das relações entre as criaturas que se poderia alcançar essa estabilidade social. É necessário também – e mesmo imprescindível – que o meio ambiente seja preservado como espaço vital para as gerações que nos sucederão.

Talvez o clarividente Solzhenitsyn não soubesse – quando se referiu ao Brasil – que já estamos resolutamente engajados no desastroso processo da poluição e da criação de novos desertos na face do globo.

Sem levar em conta a imensa desproporção de autoridade e conhecimento que nos distancia do humanista russo, ousamos dizer que estamos no mesmo campo, e que, assim como ele, certamente não seremos ouvidos naquilo que mais nos diz respeito: a defesa de nossas etnias indígenas e das vastas florestas do interior. É oportuno lembrar que , com relação a estas ultimas, não estamos atentando para os erros do passado, cometidos nas regiões mais férteis do país situadas ao sul, e que hoje estão ameaçadas por todas as formas da terrível erosão. Estamos, isso sim, através de projetos apressados, sem defender a terra, transformando em pastagens as áreas mais saudáveis e propícias à agricultura encontráveis no Brasil-Central e Amazônia. E ainda, não menos grave, implantando uma natureza de economia, da qual os futuros ocupantes das referidas áreas não poderão participar.

A civilização tem seus alicerces fundados na contribuição de todos os povos. Através da história temos contribuído de alguma forma. Hoje, nestes difíceis dias por que passa o mundo, ofereçamos um exemplo, um bem superior a todos os demais – construindo um Brasil novo, sem a preocupação de transfomá-lo numa “grande potência” , mas sim num país de ambiência humana.”

terça-feira, 18 de março de 2008

Agricultura Familiar e o Mercado Sustentável

O século XXI se iniciou com o reconhecimento de uma realidade inconveniente: a de que o modelo hegemônico de produção e consumo inviabilizará a manutenção da vida humana com a qualidade a que ele se propõe garantir. Neste contexto, é possível observar uma adaptação do mercado, de forma que ele possa atender às condições de sustentabilidade que se apresentam inadiáveis.

Interessante apontar para o fato de que, apesar desta diferenciação, o mercado permanece com os mesmos atores. Aqueles que produziram a degradação que aproximou a humanidade da autodestruição serão os mesmos que lucrarão com as oportunidades geradas pelas atividades sustentáveis.

Distante dos grandes acertos que definem os rumos do mundo para um futuro melhor, a agricultura familiar mantém sua característica de produção mediante uma estreita interação com o ambiente natural, numa simbiose que permite a geração de excedentes econômicos e a conservação dos recursos naturais.

Indiscutível que a estrutura deste setor agrega indicadores mais consistentes de sustentabilidade do que aqueles oferecidos pela maior parcela de atividades do agronegócio e da indústria, entre outras. Assim mesmo, os pequenos agricultores são pouco lembrados por seus serviços ambientais, razão pela qual têm recebido poucos benefícios financeiros em troca de suas ações.

Isso pode ocorrer porque, como a agricultura familiar produz um reduzido impacto ambiental, qualquer ação por ela adotada como forma de mitigar danos geraria poucos créditos, ou seja, as melhorias seriam de pouca dimensão quando comparadas, por exemplo, àquelas provenientes da adoção de biocombustíveis pela frota de veículos de uma grande cidade.

Em face destas constatações, o que se propõe não é a inclusão da agricultura familiar no amplo mercado, o que inevitavelmente exigiria modificações substanciais em seu modo de produção. Objetiva-se a valorização de um modelo diferenciado e que a cada dia confronta a auto-afirmação dos padrões existentes. Com isso, espera-se oportunizar aos agricultores familiares o acesso a novas fontes de renda, o que também possibilita uma expansão do diálogo entre diferentes realidades e por conseqüência uma maior oferta de opções ao desenvolvimento sustentável.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Quem sabe?

A certeza de ter a razão somada à vontade de querer impor uma determinada idéia, crença ou filosofia às outras pessoas serviu de combustível para inúmeros conflitos, de grandes ou pequenas proporções.


A intolerância nunca gerou nada que não fosse violência. A inquisição, as “Guerras Santas”, os atos de terrorismo, a homofobia e xenofobia, o racismo, são filhas da intolerância e da idéia de uma opinião, ideal, modo de vida ou crença podem prevalecer sobre as outras, ainda que para isso seja necessário o uso da violência.


Se na antiguidade tal quadro já era grave, quem dirá nos tempos atuais de globalização, em que as distâncias foram sensivelmente reduzidas e as diferenças ainda mais acentuadas. Se antigamente o “estranho” e “exótico” só podia ser encontrado após a travessia de mares e desertos, hoje ele mora na casa ao lado e freqüenta o mesmo supermercado, praça ou cinema.


O resultado todos nós conhecemos: violência, medo, preconceito e humilhações, que afetam, principalmente, os grupos minoritários e mais fracos.


Enquanto não abrirmos mão de nossa arrogância, dispusermos-nos ao diálogo, à compreensão e o respeito pelos modos de vida/crenças diversos dos nossos, enquanto nosso foco for mais as divergências e menos os pontos em comum, tal quadro irá se agravar e logo nos veremos imersos em um turbilhão de violência e intolerância.


Precisamos, acima de tudo, aprender a relativizar alguns pontos de vista, reconhecermos que não necessariamente somos donos da verdade e, principalmente, respeitarmos aqueles que vivem e pensam diferente de nós.


O diálogo e o respeito são armas muito mais eficazes contra a intolerância e violência do que qualquer bomba ou metralhadora.


Muito melhor do que suprimir a diferença é aprender com ela.


E quem sabe o convívio em harmonia não pode ser a grande contribuição do Brasil para as nações nesse século XXI?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O mito do "bom selvagem"

Ainda hoje, é comum imaginarmos o índio como um ser muito diferente de nós, seres urbanos, rodeados de tecnologia e no geral afastados da nossa "mãe natureza".

Na visão romântica, o índio aparece como uma parte do cenário natural, algo tão distânte da chamada civilização. O "bom selvagem" de Rousseau, o ser sem malícia, sem maldade, tão inocente e puro quanto a própria natureza.
Será? A resposta é não.

O pensamento predominante é o de que tudo o que o homem toca ele destrói. Logo, o humano que não degrada, mas sim convive com a natureza não seria tão humano! Absurdo...

Não só indígenas, as demais comunidades, conhecidas como comunidades "tradicionais", destacam-se do modelo predominante de produção (tecnologias avançadas, produção em escala industrial, uso não sustentável dos recursos) por seu modo diferente de fazer e viver.

Essas comunidades desenvolveram ao longo dos anos técnicas de manejo dos recursos naturais que não agridem de forma significativa o meio ambiente, e em alguns casos, colaboram para a manutenção da biodiversidade local.

Justamente por esse modo de viver tão diferenciado do nosso, essas populações vêm sendo apontadas como "conservadoras natas", "ecologistas desde o berço", ou numa visão mais preconceituosa, como "primitivos", "atrasados", "bonzinhos".

Nota-se que a visão do Rousseau continua, só mudou o nome e a circunstância.

É importante entender que são comunidades como quaisquer outras. Todos desejam uma melhor qualidade de vida, uma melhor produção, um espaço no mercado, um reconhecimento por parte dessa sociedade predominante.

Ao contrário do que prega a visão paternalista ("vamos cuidar do índio, já que ele não sabe se cuidar por si só. Que dó"), essas comunidades estão cada vez mais articuladas, ciente de seus direitos e brigando por eles.
Veja essa notícia:

Yanomami vão à Câmara retribuir visita de deputados
Nessa terça-feira (26/02), lideranças indígenas Yanomami dos estados de Roraima e Amazonas, apresentaram na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília, documentos de protesto contra a visita-surpresa de uma comitiva de parlamentares à TI Yanomami, em Roraima, em 14 de fevereiro, nos quais denunciam a pressão que receberam para aceitar a mineração em suas terras. Entregaram ainda um relatório sobre a crise na área de saúde.
Fonte: ISA

Está na hora de rever alguns conceitos, não?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Narciso acha feio o que não é espelho...

Estamos acostumados a considerar menos desenvolvidos povos que adotam modo de vida e organização social diversos dos nossos. No entanto, tal concepção de desenvolvimento mostra-se redondamente enganada.


Alguém pode argumentar que sim, que somos mais desenvolvidos que estes povos. Afinal, temos o avião, o computador, a Internet, o blog, a televisão, a lasanha para microondas, a vacina contra a gripe, o cinema, o chuveiro com água quente, o automóvel, submarinos nucleares, entre as mil e uma outras facilidades proporcionadas pela tecnologia. Até na Lua já chegamos!


De fato, se olharmos o desenvolvimento somente pelo prisma tecnológico, somos, sem a menor dúvida. mais desenvolvidos, que, por exemplo, os povos indígenas do Xingú, os aborígenes da Nova Caledônia ou as populações tribais da savana africana.


Mas...e se o foco for outro? E se em vez da tecnologia nos pautássemos, por exemplo, no desenvolvimento ecológico, nas relações sociais ou na espiritualidade?


Criamos uma sociedade que não sabe conviver com o meio em que vive e, por causa disso, efeitos como a desertificação, aquecimento global, escassez de água potável e problemas respiratórios decorrentes da poluição atmosférica já podem ser sentidos.


Criamos também o stress, a violência urbana, o medo do terrorismo e desigualdades sociais inimagináveis. Sem contar nosso esgotamento espiritual, nosso hedonismo, futilidade e falta de perspectiva. O homem ocidental vai, aos poucos, perdendo o sentido da vida. Mesmo com os avanços dos meios de comunicação, é cada dia maior o número de pessoas que sofrem de solidão e depressão....


Olhando por essa ótica e comparando, por exemplo, com o índio, resta-nos perguntar: somos mesmos mais desenvolvidos?


Não, não estou sugerindo que todos nos mudemos para alguma comunidade naturalista perdida em algum recanto da Mata Atlântica, mas sim que reflitamos um pouco mais sobre nossas noções de desenvolvimento.


Talvez dessa forma passemos a olhar com mais respeito aqueles povos que adotam um modo de vida e concepções de mundo diferentes do nosso. Afinal, o que não é espelho também pode ser bonito...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Frente Parlamentar Quilombola

Frente Parlamentar defenderá quilombos

Será constituída em março, no Congresso, a Frente Parlamentar em Defesa dos Quilombos. Seu organizador, o deputado Vicentinho (PT-SP), conseguiu a adesão de 219 parlamentares para a proposta - 49 a mais do que as 170 exigidas pela lei. O primeiro objetivo do grupo será estimular a consolidação dos milhares de quilombos que reivindicam terra por todo o País. Na outra ponta desse movimento, parlamentares do DEM aguardam o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da ação direta de inconstitucionalidade com a qual pretendem anular o decreto presidencial que regulamentou os quilombos.

Fonte: Estadão


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Comentário:

Já que temos a famosa "Frente Ruralista", nada mais saudável que a outra ponta da corda também tenha a sua. Excelente iniciativa. Resta saber até que ponto haverá um mínimo de equilíbrio de forças, haja vista que a diferença de "peso" político e econômico entre ambos os grupos políticos é abismal. Quando não se tem dinheiro, ao menos articulação é algo fundamental, ainda mais levando-se em conta que o outro lado possui os dois elementos de sobra.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

E aí? Qual a sua?

Quem aqui nunca ouviu pessoas falarem que as coisas são mesmo desse jeito ou que não adianta tentar “salvar o mundo”? Uns acreditam que o homem está totalmente condicionado e determinado por forças sobrenaturais, divinas, entidades, espíritos e Deus(es). Outros, por sua vez, fazem do homem uma criatura totalmente insignificante diante das forças econômicas que movem o mundo, estejam elas atuando por meio da “luta de classes” ou da “Grande Mão Invisível”.


Isso não passa de uma grande mentira!Tentativas de justificar nosso conformismo e inação, de afastar nossa responsabilidade.


O homem é o verdadeiro sujeito de sua própria história. Como diria Paulo Freire:


“Não posso, por isso, cruzar os braços fatalistamente diante da miséria, esvaziando, desta maneira, minha responsabilidade no discurso cínico e “morno”, que fala da impossibilidade de mudar porque a realidade é mesmo assim”.


Se existe injustiça, é porque o homem a criou. Se ela perdura, é porque o homem a deixa perdurar. Somos inteiramente responsáveis, em nossa ação ou omissão, pela existência das guerras, ódio, preconceito, fome e miséria.


O mal que afeta um semelhante, que afeta o meio ambiente, sempre volta-se contra nós, ainda que de forma indireta. Sofremos com a criminalidade porque deixamos que exista miséria. O mundo teme o terrorismo porque não soube combater o preconceito e a intolerância. Sem contar que já começamos a pagar o preço de nosso descaso com o meio ambiente.

Como já dizia Henry David Thoureau:


“Realmente, nenhum homem tem o dever de se dedicar à erradicação de qualquer mal, mesmo o maior de todos os males. Esse homem pode muito bem ter outras preocupações que o ocupem. Mas ele tem pelo menos a obrigação de lavar as mãos frente à questão e, no caso de não mais se ocupar dela, de não dar qualquer apoio prático à injustiça. Quando me dedico a outras metas e considerações, preciso verificar no mínimo se não estou fazendo isso à custa de alguém em cujos ombros esteja pisando. Que eu saia de cima dele é necessário para que ele também possa estar livre para fazer suas considerações”.


Enfim, até quando vamos procurar justificativas para não agir? Até quando vamos deixar de sermos sujeitos de nossa própria história?


Os problemas estão aí, diante de nós. Cabe a cada um escolher a postura que irá adotar diante deles....no entanto, qualquer que seja nossa decisão, seremos afetados por suas consequências. E aí?Qual a sua?