quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Narciso acha feio o que não é espelho...

Estamos acostumados a considerar menos desenvolvidos povos que adotam modo de vida e organização social diversos dos nossos. No entanto, tal concepção de desenvolvimento mostra-se redondamente enganada.


Alguém pode argumentar que sim, que somos mais desenvolvidos que estes povos. Afinal, temos o avião, o computador, a Internet, o blog, a televisão, a lasanha para microondas, a vacina contra a gripe, o cinema, o chuveiro com água quente, o automóvel, submarinos nucleares, entre as mil e uma outras facilidades proporcionadas pela tecnologia. Até na Lua já chegamos!


De fato, se olharmos o desenvolvimento somente pelo prisma tecnológico, somos, sem a menor dúvida. mais desenvolvidos, que, por exemplo, os povos indígenas do Xingú, os aborígenes da Nova Caledônia ou as populações tribais da savana africana.


Mas...e se o foco for outro? E se em vez da tecnologia nos pautássemos, por exemplo, no desenvolvimento ecológico, nas relações sociais ou na espiritualidade?


Criamos uma sociedade que não sabe conviver com o meio em que vive e, por causa disso, efeitos como a desertificação, aquecimento global, escassez de água potável e problemas respiratórios decorrentes da poluição atmosférica já podem ser sentidos.


Criamos também o stress, a violência urbana, o medo do terrorismo e desigualdades sociais inimagináveis. Sem contar nosso esgotamento espiritual, nosso hedonismo, futilidade e falta de perspectiva. O homem ocidental vai, aos poucos, perdendo o sentido da vida. Mesmo com os avanços dos meios de comunicação, é cada dia maior o número de pessoas que sofrem de solidão e depressão....


Olhando por essa ótica e comparando, por exemplo, com o índio, resta-nos perguntar: somos mesmos mais desenvolvidos?


Não, não estou sugerindo que todos nos mudemos para alguma comunidade naturalista perdida em algum recanto da Mata Atlântica, mas sim que reflitamos um pouco mais sobre nossas noções de desenvolvimento.


Talvez dessa forma passemos a olhar com mais respeito aqueles povos que adotam um modo de vida e concepções de mundo diferentes do nosso. Afinal, o que não é espelho também pode ser bonito...

Um comentário:

Lívia disse...

E só de pensar que com o simples gesto de reconhecer, ou somente respeitar outros modos de fazer/viver, todos sairiamos ganhando...

São inúmeras as possibilidades de troca, desde recursos e tecnologia, até experiência e conhecimento.

A manutenção de uma diversidade cultural, dessas diversas maneiras de "viver" o mundo, seria, além de fonte de pesquisa para diversas alternativas aos modelos atuais de exploração dos recursos naturais; uma alternativa a mais para aquele que se encontra cercado pela "mesmice" do mundo moderno. Um leque maior de opções de modos de viver, sentir, de valores, enfim.

Exemplo: o uso do conhecimento tradicional aumenta a eficiência de reconhecer as propriedades medicinais de plantas em mais de 400% (Vandana Shiva)

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