quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O mito do "bom selvagem"

Ainda hoje, é comum imaginarmos o índio como um ser muito diferente de nós, seres urbanos, rodeados de tecnologia e no geral afastados da nossa "mãe natureza".

Na visão romântica, o índio aparece como uma parte do cenário natural, algo tão distânte da chamada civilização. O "bom selvagem" de Rousseau, o ser sem malícia, sem maldade, tão inocente e puro quanto a própria natureza.
Será? A resposta é não.

O pensamento predominante é o de que tudo o que o homem toca ele destrói. Logo, o humano que não degrada, mas sim convive com a natureza não seria tão humano! Absurdo...

Não só indígenas, as demais comunidades, conhecidas como comunidades "tradicionais", destacam-se do modelo predominante de produção (tecnologias avançadas, produção em escala industrial, uso não sustentável dos recursos) por seu modo diferente de fazer e viver.

Essas comunidades desenvolveram ao longo dos anos técnicas de manejo dos recursos naturais que não agridem de forma significativa o meio ambiente, e em alguns casos, colaboram para a manutenção da biodiversidade local.

Justamente por esse modo de viver tão diferenciado do nosso, essas populações vêm sendo apontadas como "conservadoras natas", "ecologistas desde o berço", ou numa visão mais preconceituosa, como "primitivos", "atrasados", "bonzinhos".

Nota-se que a visão do Rousseau continua, só mudou o nome e a circunstância.

É importante entender que são comunidades como quaisquer outras. Todos desejam uma melhor qualidade de vida, uma melhor produção, um espaço no mercado, um reconhecimento por parte dessa sociedade predominante.

Ao contrário do que prega a visão paternalista ("vamos cuidar do índio, já que ele não sabe se cuidar por si só. Que dó"), essas comunidades estão cada vez mais articuladas, ciente de seus direitos e brigando por eles.
Veja essa notícia:

Yanomami vão à Câmara retribuir visita de deputados
Nessa terça-feira (26/02), lideranças indígenas Yanomami dos estados de Roraima e Amazonas, apresentaram na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília, documentos de protesto contra a visita-surpresa de uma comitiva de parlamentares à TI Yanomami, em Roraima, em 14 de fevereiro, nos quais denunciam a pressão que receberam para aceitar a mineração em suas terras. Entregaram ainda um relatório sobre a crise na área de saúde.
Fonte: ISA

Está na hora de rever alguns conceitos, não?

6 comentários:

Anônimo disse...

De fato, não tem nada a ver o fato de determinada cultura preservar o meio ambiente com o fato de ser "primitiva".

O pior de tudo somos nós, os "desenvolvidos", que ainda julgamos esses outros povos carecedores de "proteção".

Se há alguém que precisa mudar o comportamento antes que seja tarde demais, esse alguém não são os "primitivos", mas sim nós, os "desenvolvidos".

Vitor C disse...

"Ainda hoje, é comum imaginarmos o índio como um ser muito diferente de nós, seres urbanos, rodeados de tecnologia e no geral afastados da nossa "mãe natureza"."

Talvez nós que sejamos diferentes deles..
Será que isso faz algum sentindo? hmm?


Acho que eles são de forma simples e generalizada seres humanos mais integrados ao meio natural do que nós.. Enquanto que evitamos nossas raízes no subterfúgio de sermos dominadores de tudo que há.

O que determina a diferença entre nós e eles não esta no tipo de "ser", mas fundamentalmente no tipo de "viver".

Mas buscar diferenças pode ser um erro, pois de forma muito superficial, assim como de forma profunda, somos todos os mesmos.. Somos todos um só.


o/
Espero não ter viajado muito..

Unknown disse...

Realmente somos seres urbanos rodeados de tecnologia, mas como seria o mundo sem o avanço dela? E como seria o mundo sem a relação amigável entre homem e natureza, ou seja, sem os índios?

Enfim, tudo é necessário para a "evolução" do mundo, mas só não podemos nos esquecer que sem a "mãe natureza" não poderá haver vida, portanto quem será primitivo: os índios que a preservam ou o famosíssimo homem urbano?

E só complementando o comentário acima do Vitor... "Mas buscar diferenças pode ser um erro, pois de forma muito superficial, assim como de forma profunda, somos todos os mesmos.. Somos todos um só."
Concordo! Mas acho que somos todos um só e ao mesmo tempo somos todos diferentes!

Boa semana
o/
[Victor]

Alexandre disse...

Interessante o texto Lívia. Ainda temos muito o que aprender com esses povos. Não que tenhamos que viver como eles, mas a sustentabilidade econômica necessária pra nossa "civilização" possui vários elementos que encontram-se desenvolvidos nesses povos "atrasados". :)

Heber disse...

Realmente, como a Alexandre disse, talvez tenhamos muito o que aprender com esses povos.
Eles possuem uma cultura diferente da nossa, que por muitos aspectos não podemos nos comparar.
Diga-se, aqui, e de passagem, que eles tem muito a ensinar, pricipalmente qd o assunto é relacionamento negocial. Nesse aspectos eles tem mais desenvoltura. Veja-se como exemplo os altos negócios fechados com empresas privadas americanas no interior da Amazônia.

[]´s!

Unknown disse...

SOU CONHECIDO COMO ÍNDIO(MEU APELIDO QUE AMO MUITO...
PRINCIPALMENTE QUANDO ME CHAMAM DE INDIÃO
http://vidaanexo.blogspot.com

http://www.myspace.com/presentesorbital

http://www.youtube.com/watch?v=MamGEhgs3oo

http://www.youtube.com/watch?v=_Fa9g_tdTLE