sexta-feira, 23 de maio de 2008

Não defendemos a natureza

Ontem o preço do petróleo bateu seu recorde. E veremos isso todos os dias daqui para frente, nem é preciso explanar aqui sobre o conceito básico de “oferta/procura”, nem sobre os fatores que levaram a escassez do ouro negro e ainda sobre sua imensa necessidade à propulsão econômica mundial.
Lá no Ártico a preocupação é nenhuma. Os ursos polares nem ao menos viverão para presenciar o tamanho da tragédia. Você parou pra pensar que a probabilidade de a Torre Eiffel continuar em Paris nos próximos quarentas anos é maior do que as perspectiva de vida dos Ursos Polares? Não está na hora de você rever o seu passeio turístico?
A aposta agora é a seguinte: quem virá primeiro a derrota da Amazônia ou do Petróleo? Nem vamos aqui colocar os Ursos Polares na aposta, estes, já estão no limbo.

Essa parcialidade verde, “a natureza como sagrado, a natureza como bem estar, a natureza como provedora” é altamente nociva e danosa.

Não somos julgadores da natureza, nem seus amigos, seus comparsas. Somos parte dela. Os animais não abraçam árvores, os rios não dançam em volta de fogueiras para a Grande Criação. Eles celebram a vida preservando-a. É o instinto de sobrevivência básico de qualquer ser: menos do sábio Homo-sapiens, que perdeu este conceito há muito já.

Ingênua, eu?
Não estou ignorando as tecnologias, os avanços, os meios de trabalho e produção. Sabemos todos que viver como nômades-preservadores-do-meio é algo insustentável e irreal. Então porque não propor um novo caminho?

Caímos então na armadilha: não estamos em uma auto-estrada que só leva a um trajeto; mote do discurso enfadonho dos ambientalistas; proteja a natureza diga “não” ao modo de vida que você leva, ande de bicicleta (cara, eles conhecem São Paulo?), faça yoga (!), filie-se a uma ONG.

Então, eis o novo caminho!
Vamos lá! Não sejam vocês, queridos “defensores da natureza”, ingênuos. Natura Ecos, Whole Foods, papel reciclado da Suzano, carros menos poluentes, e milhares de exemplos estão aí para atender a vocês com o slogan: empresa que preserva o meio ambiente. Lindo, palmas!! Você não come produtos trangênicos segundo a listinha do Greenpeace, você recicla o seu lixo em casa e faz palestras nas escolas locais.

E aí está a questão: a própria economia já captou (e porque não, cooptou) essa parcela consciente da população mundial. Até o açúcar mascavo cresceu na indústria. Porque eles querem defender a natureza? Não, o fato é o lucro em defender a natureza e por isso, e só por isso, que o mundo não vai explodir em Tsunamis, chuvas ácidas, gases venenosos, furacões, etc, nos próximos quarenta anos, juntos com os ursos polares.

Você, que come comida orgânica, faz isso porque que defender a natureza? Então você está tão errado quanto o presidente da Monsanto. Ou você acha que ele compra comida no mercadão? Não, dear, e na área de orgânicos do Empório. Ingenuidade sua achar que pode defender a natureza. Defenda-se das suas próprias perspectivas, é o que eu aconselho.

A postura deve ser ativa, inclusiva, interna.
Não adianta você ver a natureza como sagrado, se não é assim que você se enxerga afinal, o que os separam?
Vamos deixar a balela ecochata para as grandes ONG´s que podem contribuir em uma escala maior, invadindo navios que transportam madeira ilegal, queimando laboratórios de pesquisa.

Quando você colocar a próxima “mini carrot” na sua boca, enquanto tecla no seu mac book air, saiba: a natureza sabe responder sozinhas as agressões que estamos enfrentando, e seu sistema imunológico fará algo simples: expurgará esta doença que a afeta; nós.

Você já está neste organismo vivo que é o nosso planeta, basta saber se a sua escolha é ser o câncer ou um glóbulo branco.

4 comentários:

Alexandre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandre disse...

Artigo maduro, uma opinião sensata. Concordo que há uma sensível dose de hipocrisia nessa nova "onda verde". Mas eu ainda acho que melhor com ela do que sem ela.

Como é da natureza humana, as pessoas tem uma dificuldade em buscar a razoabilidade, o bom senso (talvez por isso que o dito seja um dos princípios basilares do direito e da idéia de justiça), sempre se apegando, ou melhor, se conformando com extremos e/ou padrões alienantes. E isso vale pra tudo, inclusive consciência socio-ambiental.

Cada dia que passa, e que eu vou também amadurecendo, percebo que a base de tudo pra uma mudança real nos padrões de consciência está na educação, seja em que nível for. Minha mais nova vontade de entrar no ramo acadêmico talvez tenha a ver com isso. Enquanto o padrão de educação (e consequentemente cultural) for desprovido de fortes e enraizados conceitos ecológicos, a coisa não vai mudar. E não falo de idéias "ecochatas", mas de uma cultura ambiental para a base da nossa sobreviência enquanto espécie.

A grande questão é saber se já passamos do ponto de "não volta". Esse ponto ainda está em aberto e ninguém sabe bem o que ele é e como controlá-lo. Talvez seja uma fina ironia pra nossa tão bem estruturada arrogância no diálogo com o nosso meio de existência.

Anônimo disse...

: ) Formidável!
Particularmente, acredito que não é a natureza que vai precisar de proteção, mas sim a espécie humana.
Convenhamos...depois de algumas dezenas de milhares de anos ela já está recomposta, o Planeta já vivenciou períodos de Era Glacial e outras intempéries...já nós humanos..talvez tenhamos a mesma sorte dos dinossauros ou mamutes...ou até msm dos ursos polares
Outro ponto que eu consideraria tb é q essa perspectiva eco-chata mts vezes acaba sendo etnocêntrica(ou seja, fundada em conceitos puramente ocidentais, desprezando experiências de outros povos) e intolerante(descartando soluções viáveis, razoáveis e eficazes)
Enfim, ótimo texto!: )
Gostei mt!

Lívia disse...

*snif* sem palavras * *!