sábado, 7 de junho de 2008

"Scuppie" e o consumo consciente

Aproveitando que encerramos a convencionada "Semana do Meio Ambiente", um tópico para reflexão:


A nova geração verde e bem sucedida


Na era do aquecimento global, o Yuppie (gíria em inglês para um jovem da cidade rico e bem sucedido) é um ser deslocado. A moda agora é juntar o amor ao dinheiro com o respeito ao meio ambiente e aderir ao movimento Scuppie.

Scuppie é a sigla para Socially Conscious Upwardly-mobile Person (Pessoa socialmente consciente e antenada nas novidades tecnológicas), em outras palavras, quase um ecologista geek e cheio da grana.

O termo foi criado pelo americano Chuck Failla, presidente de uma empresa de planejamento financeiro em Manhattan, na cidade de Nova York. Na blogosfera, o rótulo é usado para definir a evolução do processo que começou no movimento Hippie e passou pelo Yuppie.

No site do "movimento", três frases definem o que muitos já chamam de "a nova geração verde":

1- Uma pessoa que deseja tudo que há de melhor na vida e pode prestar algum serviço social e pensar de forma consciente.

2- Alguém que busca a paz, felicidade e dinheiro (não necessariamente nesta ordem)

3- Uma pessoa "verde" que entende que o amor pelo dinheiro não pode ser mais importante que a natureza e vice-versa.

O site ainda traz alguns gráficos que explicam como um Scuppie pode associar o conforto e o luxo a um modo de vida mais sustentável, como por exemplo, usar um cartão de crédito que converte uma porcentagem da compra em doação para a protação da Amazônia.

Ou ainda como manter seu cabelo perfeitamente arrumado sem usar produtos com aerosol ou testado em animais.

Apesar da boa intenção, algumas colocações do modo de pensar da nova tribo "executiva-verde" soam um pouco fúteis, mas como a filosofia do Scuppie diz: o importante é fazer a sua parte de alguma forma.

(http://br.noticias.yahoo.com/s/080605/48/gjo7y7.html)


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Consumo das classes A e B no Brasil equivale à produção de dois planetas Terra


Por Ana Luiza Zenker, da Agência Brasil

Brasília - Se o mundo todo consumisse água, energia, alimentos e serviços da mesma forma que as classes A e B brasileiras, seriam necessários três planetas Terra produzindo ininterruptamente para fornecer os produtos e serviços em quantidade suficiente para abastecer esse consumo. É o que mostra uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (5) pela organização não-governamental ambientalista WWF Brasil.

A pesquisa, realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mostra que 45% da população segue esse padrão de consumo. Todo o restante, ou seja, 55% dos brasileiros, consomem de uma forma que demandaria dois planetas Terra para ser abastecida.

Em comparação, os hábitos de consumo da população dos Estados Unidos, se fossem adotados em todo o mundo, demandariam a produção de bens e serviços de mais de cinco planetas Terra.

Esses dados “acendem a luz amarela, para que a gente possa ter um consumo sustentado”, diz a secretária-geral do WWF Brasil, Denise Hamú. “[Isso] significa que temos que repensar nossos hábitos”, destaca Irineu Tamaio, coordenador do Programa de Educação Ambiental do WWF Brasil. Ele ressalta que 67% da população não sabe qual o destino dado ao lixo produzido em casa – as pessoas apenas colocam o lixo em sacos que vão ser recolhidos pelos serviços de limpeza urbana.

Esse número é ainda maior nas Regiões Norte e Centro-Oeste (80%) e Nordeste (84%). Na Região Sul é que as pessoas estão mais acostumadas a separar o lixo reciclável – cerca de 42% da população faz essa separação ainda em casa, enquanto 44% somente colocam o lixo em sacos.

“Chama a atenção que, às vezes, o Sudeste e o Sul tenham política públicas ou campanhas de esclarecimento ou divulgação a respeito do destino do lixo, e que talvez nas Regiões Norte e Centro-Oeste, ou talvez no Nordeste, não existam políticas de aperfeiçoamento, preocupação ou destinação do lixo”, acrescenta Tamaio.

Segundo ele, um dado positivo merece ser destacado: o percentual de pessoas que sempre desligam lâmpadas e aparelhos eletrônicos quando não os estão usando: 80% fazem isso. “É um índice que a gente considera alto.”

“O que nós queremos é despertar na sociedade brasileira uma forma de pensar e agir para propor algumas mudanças, ou seja, o consumo gera um impacto”, diz Tamaio. Ele aponta uma tendência de aumento do consumo no Brasil, mas ressalta que isso precisa ser planejado, pois a pressão sobre os recursos naturais é muito grande quando se confirma essa tendência.

“O fato é que a gente só tem um planeta, e hoje consumimos mais do que se tem disponibilidade”, completa Samuel Barrêto, coordenador do Programa Água para a Vida, do WWF Brasil. Essa é uma orientação, ele conclui, “que indica sinais preocupantes de como vivemos no país”.

A pesquisa ouviu 2002 pessoas em 142 municípios de todo o Brasil, entre os dias 13 e 18 de maio deste ano. De acordo com o WWF Brasil, foi a primeira vez que se fez um trabalho desse tipo no país.


(http://envolverde.ig.com.br)


Comentário:

Essas duas notícias demonstram bem o paradoxo do que poderíamos chamar de algo como o "green way of life" (surgiu esse termo na minha cabeça, mas nem sei se ele já existe por aí). É algo como uma suposta nova ideologia progressista que arrebata desde socialites "antenadas" do Morumbi e da Barra da Tijuca até os mais gigantescos conglomerados bancários. Viver um estilo de vida capitalista, consumista por excelência, e ao mesmo tempo supostamente sustentável (sob o prisma econômico).

Até que ponto o real engajamento e consciência política resiste a uma violenta hipocrisia social? É uma questão complicada. Se por um lado é constrangedor ver gente como a Sua Majestade Príncipe Charles falando sobre a importância da proteção das florestas tropicais, há um outro lado de conscientização, mesmo que frágil. O tal do "marketing verde", por mais hipócrita que possa parecer, possui um componente indireto de real educação ambiental. Quem cresce sabendo um mínimo de conceituação sobre o que é um modo de vida sustentável já está um passo a frente do completo ignorante.

Na minha opinião, esse é o grande fator transformador: educação ambiental. E não é preciso ser muito inteirado sobre o que se estuda na área pra saber que esse aspecto ainda é imensamente menosprezado, e deixado de lado por todos os "atores sociais" de peso da nossa civilização "classe A/B". Sem falar que esse fator não é suficiente para reverter a situação. É o mínimo acalentador. Mesmo que o componente educacional seja tratado com seriedade, ainda vai demorar uns 40, 50 anos para que tenhamos resultados minimamente impactantes e que seja possível criar um novo paradigma de existência sócio-econômica e política no planeta.

Em suma, o quadro não é nem de longe um pouco animador.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente textos e observação!
Acho que essa nova onda de consumo sustentável veio em boa hora. Quem sabe é uma das alternativas para reduzir o impacto que causamos no planeta(que já é agravado com o aumento populacional).
A Educação é sem sombra de dúvida a principal via de transformação, pois é por meio dela que podemos desenvolver consciência política, ecológica e até mesmo ética.
No entanto, acho que ela deve ser acompanhada de estímulos governamentais: q tal tributar atividades e produtos degradadores? Ou dar incentivos fiscais e econômicos para atividades, hábitos e produtos sustentáveis?
Creio que a conscientização, per si, pode não trazer as mudanças necessárias...